Psicologia/para refletir
A discussão
sobre a diferenciação entre os homens e as mulheres, formulada por Rank, que
afirma serem distintas as respectivas psicologias básicas. A força do homem
reside em seu poder criador, a da mulher no sexo.
Desde que o sexo
significa, para o homem, mortalidade, ele teme-o, tanto em si mesmo como na
mulher. Ela, pelo contrário, aceita o sexo e encontra a imortalidade na
procriação sexual, um prolongamento do eu
biológico, ao passo teme a vontade do homem. No intuito de alcançar suas
finalidades sobrenaturais, o homem masculinizou o mundo, incluindo a mulher, a
quem impõe uma ideologia masculina, sendo ela quem ainda preserva os elementos “irracionais” da natureza humana.
O homem jamais aceitou
o fato de ser mortal, isto é, “nunca se
aceitou a si mesmo”. Resulta daí que a psicologia é uma “negação de sua origem
mortal e uma necessidade subsequente de se modificar, para descobrir seu eu real,
que o homem racionaliza como sendo independente do da mulher”. A mulher,
porém, aceitou seu eu básico, ou
seja, a maternidade, ao passo que, tendo aceitado a ideologia masculina,
necessita, portanto, de uma constante garantia de que é aceitável para o homem,
garantia essa que ele só poderá obter mediante uma vida moldada pelos ideais e
padrões masculinos.
Simultaneamente,
ela esconde sua própria psicologia, em parte como arma contra o homem, que ela
necessita como refúgio de seu escravizado eu,
em parte porque sua própria psicologia constitui um segredo também para
ela.
A mulher, por
força de sua estrutura biológica, é fundamentalmente conservadora. O homem, por
outro lado, guiado por sua necessidade mais egoísta de preservação do próprio
ego, luta pelo controle da criação.
Assim, a questão
de igualdade dos homens e mulheres está erroneamente concebida, pois a única
igualdade é o direito igual “de todo
indivíduo a ser e a tornar-se nele próprio, o que realmente significa aceitar
sua própria diferença e vê-la aceita pelos demais”.
Quanto à
perpetuação da espécie sempre foi instintivo uma preocupação masculina de
autopreservação da sua existência, Rank considera a luta pela autopreservação,
uma espécie de perpetuação de ordem espiritual, como elemento fundamental da
humanidade. O homem teme a destruição final, não tanto a morte natural, visto
que, na crença de muitos povos, a lama continua vivendo para além da morte.
O que ele receia
é a destruição de seu eu espiritual.
A sobrevivência racial nos próprios filhos e sua descendência não é o bastante;
é não pessoal e limitada pela morte. A humanidade almeja uma espécie de eterna
sobrevivência espiritual. Por Otto Rank.
Viver não é necessário. Necessário é
criar.
Fernando Pessoa
Nenhum comentário:
Postar um comentário