INTRODUÇÃO
No tempo presente o pragmatismo é de
longe um dos comportamentos mais em voga no ambiente social. Nesse contexto, a
idea de que os resultados, a praticidade, a utilidade e a funcionabilidade são
os melhores indicadores da verdade, e, conseqüentemente, da melhor maneira de
se viver, estão a nortear o cotidiano das pessoas.
Para exemplificar, em Cartas de um diabo a seu aprendiz,
de C. S. Lewis, o diabo instrutor Fitafuso aconselha seu sobrinho e aprendiz, Vermebile,
sobre como afastar uma pessoa da verdade do evangelho. Na primeira epístola,
Fitafuso desenvolve a ideia de que os humanos são mais propensos a aceitar
pensamentos que tenham aplicação prática em suas vidas, ao invés de avaliar a
validade das mesmas.
Ele escreve: “Parta do princípio que sua
vítima já se acostumou desde criança a ter uma dúzia de filosofias diferentes
dançando em sua cabeça. Ele não usa o critério de “verdadeiro” ou “falso” para
conferir cada doutrina que lhe apareça (seja do Inimigo ou nossa). Ao invés
disso, ele verifica se a doutrina é “Acadêmica” ou “Prática”, “Antiquada” ou
“Atual”, “Aceitável” ou “Cruel”. O jargão e a expressão feita (e não o
argumento lógico) são seus melhores aliados para mantê-lo longe da Igreja. Não
perca tempo tentando levá-lo a concluir que o Materialismo seja verdadeiro
(sabemos que não é). Faça-o pensar que ele é Forte, Violento ou Corajoso – ou
ainda, que é a Filosofia do Futuro! Este é o tipo de coisas que lhe despertarão
a atenção”.
Francis Schaeffer, também, em 1976, quando
escreveu How Should We Then
Live (Como Viveremos?), chegou a afirmar que o pragmatismo era o
pensamento dominante na época. Segundo ele, “tanto nos assuntos internacionais
quanto no que diz respeito ao lar, o critério mais amplamente aceito é a
conveniência – manter-se a paz pessoal e a prosperidade do momento a qualquer
preço”. Identicamente, o inglês John Stott afirma que “no mundo moderno
multiplicaram-se os pragmáticos, para os quais a primeira pergunta acerca de
qualquer ideia não é: “É verdade?” “mas sim: “Será que funciona?”. (2001, p.
07).
Assim, é possível perceber as garras dessa
doutrina sendo cravadas nas políticas públicas, na economia, na educação e até
mesmo nas discussões judiciais. O ideário pragmático pode ser vislumbrado
quando se coloca em debate assuntos como o aborto, drogas, pesquisas de células
tronco, entre outros. Geralmente, quando esses assuntos são discutidos, a
análise gira em torno dos benefícios imediatos que tais práticas podem trazer
para o ser humano, sem se levar em conta valores morais e princípios éticos.
Teologia Pragmática Pós-moderna
No âmbito teológico o pragmatismo também vem
ganhando espaço. Em A Sedução das Novas Teologias Silas Daniel descreve a forma como vários princípios da pós-modernidade
estão invadindo as igrejas e afetando negativamente a Teologia. Ele cita um
série de vertentes teológicas que foram criadas exatamente para atender as demandas do nosso tempo.
Em suas palavras, “entorpecidos por essas falsas
necessidades que nos são impostas, muitos cristãos no Ocidente estão
flexibilizando sua fé, mudando sua mentalidade em relação à Bíblia, à Igreja e
à Deus, e isso, infelizmente, já está acontecendo também no Brasil. Esses cristãos,
cujo número cresce cada vez mais, são os seguidores do que denominamos
teologias pós-modernas, que nada mais são do que tentativas de adaptar o
evangelho a essas ditas “demandas”, ou seja, aos princípios da pós-modernidade“.
Na esteira desse raciocínio, outra espécie de
demanda da geração atual pode ser vista na busca
do homem por algo espiritual que funcione e lhe traga benefícios imediatos.
O pensamento religioso vigente funda-se na ideia de que para ser válida uma crença necessita invariavelmente ser prática,
útil e que atenda todas as suas expectativas. Infelizmente, com o propósito de
atender essa falsa necessidade muitos ministérios cristãos acabaram por se
curvar ao anseio social, adotando o que podemos chamar de teologia pragmática, recheada de discursos e métodos orientados fundamentalmente para os resultados e para a felicidade imediata.
Noutros termos, muitos ministérios evangélicos
enveredaram-se pelo caminho das estratégias
de mercado para arrebanhar mais seguidores, ou aderiram ao movimento chamado
“a igreja ao gosto do freguês” conforme denominou T. A. Mc Mahon; o que segundo
ele tem invadido muitas denominações evangélicas, propondo evangelizar através
da aplicação das últimas técnicas de
marketing voltadas para os “consumidores
espirituais”, enfatizando os benefícios
temporais de ser cristão e colocando a pessoa do “consumidor” como seu
principal ponto de interesse, cuja abordagem centra-se na gratificação imediata, nas bênçãos
terrenas e no “sentir-se bem consigo mesmo”. Nesse compasso, as assim
chamadas “megaigrejas” adicionam salas de boliche, quadras de basquete, salões
de ginástica, auditórios para concertos e produções teatrais e franquias do Mc Donalds
tudo para agradar os seus “clientes”.
Com isso, na liderança aparecem novos profetas / ungidos
/ visionários. Administradores de igreja,
no lugar de pastores de ovelhas. Gerentes eclesiásticos, ao invés de servidores
do próximo. Componentes de organizações ao invés de membros de um organismo. Personal
Trainner Espiritual ao invés de ministros do evangelho. Gostam de números, não de vidas. Amam o status, não as almas.
Como visto, o
pragmatismo é um dos paradigmas nesta geração pós-moderna, inserindo-se inclusive no ambiente eclesiástico. Nesse caso, a adoção da teologia pragmática pode ser percebida tanto no discurso, onde
o evangelho é enfatizado pelos seus benefícios terrenos, quanto na metodologia
de trabalho do próprio ministério, por meio de práticas focadas em números e resultados em detrimento dos verdadeiros princípios bíblicos.
Aparentemente, a visão de benefícios,
funcionabilidade e resultados pode não representar qualquer nocividade à fé
cristã, porém, a utilização dos ideais
pragmáticos na pregação do evangelho representam – sim – grandes perigos ao
ministério pastoral, tanto quando usado no discurso, bem como no que se
refere à metodologia empregada.
A importância da eficiência
Não podemos, é claro, desprezar a importância
da prática em todas as esferas de atuação do homem. No casamento, na
educação e na atuação profissional, por exemplo, existe uma série de
considerações do ponto de vista funcional que realmente precisam ser levados em
conta.
O princípio da eficiência
entendida como o emprego dos meios necessários para se atingir determinado fim,
é fundamental no desempenho das atividades vitais do ser humano, inclusive no
espaço eclesiástico. Entretanto, a
praticidade não pode ser o único ou o principal ponto a ser ponderado na
realização de qualquer tarefa; e é exatamente aqui que a filosofia pragmática erra, empurrando para a periferia uma série de
princípios fundamentais e elege, como único fator relevante, a questão:
“Isso funciona?”, sem considerar os aspectos morais, sociais e
psicológicos que cercam o ato.
Dito isto, vejamos os perigos do pragmatismo, tanto no que se refere à pregação, bem
como em referência à metodologia de
trabalho:
O perigo de considerar o Evangelho como produto e
não como dádiva
Lourenço Stelio Rega, em artigo publicado na
Revista Eclésia escreveu que “nestes primeiros anos do terceiro milênio, a fé cristã
está entrando pelo mesmo principio básico da lei de consumo – obter as maiores
recompensas por meio dos menores
custos. E se não for possível conseguir as dádivas, busca-se por discurso
compensadores que possam substituí-la”.
Nessas palavras é possível perceber um dos perigos contidos no discurso porque transforma o Evangelho em uma espécie de
produto com vários benefícios àqueles que aceitarem a Cristo como Salvador.
Esse evangelho de benefícios leva
muitos a uma peregrinação de igreja em
igreja, em busca daquela que lhe ofereça mais vantagens espirituais.
A nocividade em transformar o evangelho
em produto é que isso gera uma falsa expectativa naqueles que
foram para as igrejas em virtude das “propagandas
religiosas”. Prometeram-lhes
felicidade, milagres e bênçãos terrenas. Acontece, então, que após tempos e
tempos de falsas promessas e benefícios não efetivados, pessoas há que desanimam da fé, da igreja e até mesmo de Deus;
atribuindo a Ele o fracasso de suas vidas por não terem recebido a prosperidade que esperavam e que haviam
prometido. O resultado são vidas:
machucadas, feridas, apostatas da fé que criam escudos protetores. É o medo de
serem enganadas novamente, de que tomem mais uma vez seu dinheiro em troca de
promessas com as quais Deus nunca se comprometeu.
Ser cristão, levando em consideração somente os benefícios dessa vida
não pode e nem deve ser o nosso principal alvo. Segundo a Bíblia, “se a nossa
esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de
todos os homens”.
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