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quinta-feira, setembro 11, 2014

ANTROPOLOGIA ENRIQUE DUSSEL - ÉTICA COMUNITÁRIA

Enrique Dussel. Ética Comunitária. Petrópolis, RJ: Vozes, 1987. 2ª edição (1ª edição 1986) [Coleção teologia e libertação, série III: a libertação na história]

Helmut Renders

Introdução

Proposta: “Ética social” de ponto de vista da TL
Organização: parte I: o fundamental, a partir do mais importante e simples para o mais fundamentada e complexo; parte II: questões atuais na luz da fidelidade ao evangelho
Observação: Base teórica com empréstimos tomistas (Tomás de Aquino) / parecido com Leonardo Boff;
 Parte I: Dez questões fundamentais

Capítulo I: Práxis do Reino

Repetição do primeiro capítulo a partir de conceitos guias de Jung Mo Sung: sentido – desejo – horizonte utópica
Estado da questão
Observação: partido do texto bíblico (!); no caso, da Práxis dos Apóstolos 2, 42-47:
Essência da vida cristã: = práxis; = comunidade [koinonía] estar junto com os outros (mal-entendimento institucional ou eclesiástico possível);
(Na AL as “marcas da igreja = Atos 2, 42-47; na história = Credo Nicaeno-Constantinopolitano: unidade, catolicidade e apostolidade da igreja ”)
Essência do Reino = estar junto a Deus;
 Práxis como ato relação.
Práxis e prático
= 1º o ato humano que se dirige a outra pessoa humana ou a maneira atual de estar a frente ao outro
= 2º a própria relação de duas o mais pessoas
Distinção: praxéis [=relação pessoas-pessoa] = operare porque não colaborare?] não é póeises [ = relação pessoas-natureza] = facere, fazer, produzir com ou em algo]
A pessoa: rosto, corporeidade e o “próximo”.
Pessoa:
Uma pessoa é somente pessoa quando está ante outra pessoa;
Relação pessoa=-pessoa; o “face-a-face” de duas ou mais pessoas é ser pessoa;
Pessoa é carne, todo homem, e a encarnação é a realização de estar frente-a-frente, de construir a proximidade: o outro se torna próximo;
Práxis = atualização da proximidade = da experiência de ser próximo para o próximo = de construir o outro como pessoa = fim da minha ação = respeito infinito (em vez de meio) (?);
A relação como “agápe”.
Distinção: Agápe (amor do outro diferente / expressão máxima amar o inimigo) em vez de Éros (o outro como meio do meio gozo) e filía (amor entre iguais).
O “nós” do face-a-fasce: a comunidade.
Amor cristão algo comunitário, plural, mediante de caridade e justiça
Amor-justiça = amor benevolente = mútuo
Da multidão (oxlós, polloí), mediante do face-a- face da unidade, transforma-se em comunidade (koinonía); na comunidade todas são pessoas-para-pessoas;
Individualidade se realizando plenamente na plena comunicação comunitária (Talvez Habermas: sociedade comunicativa!?)
 Comunidade “eucarística”
Comunidade = fundada no
mútuo amor-de-justiça de participantes livres e plenos como pessoas = celebração da vida plena;
Eucaristia envolve pão = fruto do trabalho e combina a relação pessoa-pessoa como pessoa-natureza;
Eu-caristia = a boa oferenda (cháris = ação de graça)
Ao outro se da o fruto da produção = relação prático-produtiva = uma economia;
Partir o pão = ter todo em comum;
Necessidade, satisfação, festa.
Práxis como ação e relação = visa a sua realização integral e felicidade plena; receber segundo a necessidade = garantir a vida; não ter necessidade critério do juízo final;
O comer junto = festa e antecipação do Reino;
O “Reino de Deus” como face-a-face absoluto.
Reino = realização total do ser humano, positividade absoluta, infinita e irreversível; no primeiro lugar ser pessoa; Jesus proclama o Reino, é morto mas promete um substituo, o Espírito Santo;
O Reino como “já” na comunidade “comunidade”.
Jesus – Espírito: preparação da segunda vinda como tempo da igreja;
A própria comunidade (teologia católica) a própria vida comunitária (teologia protestantes) era “já” o Reino;
O Reino como “mais-além”: a utopia.
O Reino = anunciado (em Jesus), realizado em parte (em todo ser humano de boa vontade, mas de forma privilegiado) na comunidade cristã de base guarda sempre um momento constitutivo do “ainda-não”; O Reino é transcendência absoluta de toda práxis, de todo face-a-face histórico, de toda comunidade e um “mais-além” da toda realização humana;
Reino como realidade = algo mais que eu posso praticar
Reino como categoria = horizonte crítico
Reino, historicamente, = uma promessa;
Reino, uma transcendência escatológica, = princípio absoluto, medida do todo projeto histórico, seja ele reformista ou revolucionário (observação: reformista = restaurativo aqui; restauração / status quo – reforma / revolução)
Conclusões
Princípio radical da ética cristã e comunitária;
Capítulo II: Maldade e morte.
Estado da questão
Reino = felicidade, realização, santidade = o face-a-face das pessoas entre sim e com Deus
Maldade / Mal = interrupção, ruptura, impedimento deste face-a-face. (observação: o conceitos justiça / shalom representam uma idéia parecida)
O mal passa pela dominação do outro, substituída pela relação eu-coisa, sujeito-ojeto em vez de sujeito-sujeito, resultando numa “coisificação” e aniquilação do outro;
O que é a maldade o mal?
Mal como práxis perversa: 1º = negação do outro e coisificação e instrumentalização do outro; a denominação do outro antecede a ofensa de Deus; o Cristo pobre = relaciona o que fazemos ao irmão pobre um fazer a Deus;
Idolatria, fetichismo.
Negando o outro o pecador se totaliza, afirma-se como Deus, fetichiza-se, diviniza-se, idolatra-se e força a ser idolatrizado; o eu mesmo como Deus;
Já o esquecimento do outro é roubo: hoje, o capital tornou-se Deus, é idolatrada quando sacrifica a vida do próximo; Os deuses modernos representam o “pecado moderno”.
Maldade individual ou abstrata.
Comparação do mito de Gêneses 1 e do Prometeu: não a tragédia, não Deuses injustos, mas o mal-uso da liberdade cedida contra o outro origina o mal: a queda do ser humano e fruto da sua própria livre vontade, não imposição divina; duas expressões: o ser humano relaciona-se como o outro ou como dominador ou dominado e cria-se sistemas de responsabilidade opressoras;  
Pecado social ou concreto.
O pecado individual é abstrato, porém, o pecado é cometido em relação ela é institucional = “conforme o modo de os indivíduos se comportarem de maneira estável e relacionada”; o domínio estável do outro é institucional por estabelecer um tipo de relação social estável;
O pecado “hereditário
Distinção inicial entre Agostinho e Pelágio:
Pelágio = o pecado é herdado comportamentalmente (observação: escola antropológica);
Agostinho = o pecado é constitutivo para o nosso “ser” (observação: escola ontológica);
Ser = ser social; o pecado expressa-se no ser dominador ou ser dominado = desprezar o outro; cada pessoa que chega na idade que possibilitaria a liberdade efetiva (psicologicamente na adolescência), ela já é inclusa no sistema pelo papel social, pela classe social, etc.
“O pecado é transmitido pelas instituições, estruturas culturais, políticas, econômicas, religiosos, eróticas etc.” por eles herdamos uma práxis equivocada (observação: Tillich chama isso a tragédia do pecado).
O “pobre”.
Pobre = ato principal dele não é não ter bens, mas o “estar dominado”; a alienação do outro (fruto da práxis do pecador) produz assim a pobreza do pobre (fruto do pecado);
A “morte”.
A causa da morte eterna é a vida que vive da morte do outro, do pobre; (muitos textos bíblicos, pouca argumentação consecutiva).
Consciência e responsabilidade.
Pecado como herança da relação social não impede nem consciência do pecado nem a noção da (ir) responsabilidade em relação a práxis alienadora;
Apesar de que cada um assume o seu lugar no sistema do pecado num processo não sempre consciente, há conscientes atos de afirmar e reafirmar o poder, o gozo, a cultura; há uma autoconsciência na humilhação, no desprezo; A afirmação é responsabilidade, reafirmação (observação: e re-justificação do direito domínio, do não-direto da revolta);  a consciência se manifesta pela permanente necessidades de auto-justificação e pela busca de des-culpas; 
O “Príncipe desse mundo”.
O pecado é não apenas individual ou social, histórico, institucional, relação social, mas organiza-se, tem consciência de si, funciona como sujeito: Satã, o “Poder”, o maligno; importante não é objetivação desse mal num espírito puro substantivo e pessoal – fato que não negamos – mas a compreender a sua práxis: a dominação do outro (ser senhor do outro alienado);
Pecador, o “rico” = enviado pelo “Príncipe deste mundo” para institucionalizar seu reinado = estruturas históricas do espaço como “relação social”;
Conclusão
Maldade e morte descreve o oposto de Práxis e Reino: = impedimento da construção de comunidade por afirmar a individualidade contra essa comunidade em vez da realização mútua da autêntica individualidade e comunidade; a anticomunidade da individualidade fetichza a individualidade, destrói-se mediante da morte do pobre; (observação: que falta aqui (ainda?) é o perigo do totalitarismo, o impedimento da construção da individualidade pela comunidade).   

 Capítulo III: Moral “social” vigente: o “princípio babilônico”

(Observação: essa parte é muito parecido a palestra do palestrante de Chicago, na SET 2005: “Lutar contra o espírito do império”).
Estado da questão
O mal, o pecadoindividual subsumido no social - organiza-se e institucionaliza-se;
Distinções necessárias.
O autor estabelece uma distinção fundamental para seu discurso:
Moral (latim) = sistema prático da ordem vigente e estabelecida (Observação: discurso do status quo), justificando o sistema;
Ética (grego) = futura ordem libertadora, exigindo respeito ao pobre:
Corresponde a essa distinção.
Social = ordem vigente, condição do ser humano.
Comunidade, comunitário = ordem futuro do face-a-face segundo o amor-justiça; ordem utópica que permite criticar a ordem social vigente (razão do título: ética comunitária);
Qualquer práxis pode ser boa para o moral vigente ou para uma ética libertadora;  
“Este mundo”.
Definição: Mundo, cosmo, ordem, um universo com certa ordem totalizada, fetichizada, fechada sobre sim; 
A “carne”.
Definição: Carne aqui não corporeidade ou lugar de onde nascem os desejos, mas também uma ordem, ordem “natural” do ser humano, o aspecto passional e subjetivo onde se exerce o império do mundo; o ser humano como “carne” segue ativamente da ordem do mundo, do império;
O “Princípio-babilônico”
Totalidade da estrutura das práticas do pecado; fisionomias históricas diferentes: Egito, Babilônia, (falta Roma);  característica = o sistema fecha-se sobre si mesmo, seu projeto histórico se sobrepõe ao projeto histórico da humanidade, do humano; suas leis tornam-se naturais, suas virtudes perfeitas, os que re-sistem se torna terroristas;
O sistema de práticas mortais.
Cada sistema estabelece suas práticas como boas: a perversão é agora bondosa e justa; acompanhada por uma ideologia como encobrimento da realidade dominadora justificando a sua práxis como se fosse o próprio Reino de Deus;
Moralidade da práxis.
Moralidade define-se sobretudo como  relação existencial com a norma ou a lei estabelecida; a moralidade carece um critério de lei justa, do imposto justo, do salário justo etc. O sistema critica menos o ladrão que rouba (por ser ainda mal integrada no sistema, o por se mal integrar no sistema) e mais o profeta que questiona por que se deve seguir e amar a lei desse mundo; 
Consciência “moral”.
O mundo, a cultura informa a consciência moral dos seres humanos em seu alcanço; classicamente, essa consciência moral afirma o comprimento das leis em vigor(não roubar etc.), mas não leva a análise das injustiças encobertas pelo sistema (sofrimento do pobre é eticamente menos relevante do a defesa da propriedade pessoal); a consciência moral traz a consciência tranqüila dos que participam no sistema; 
O pobre por “natureza”.
Duas teologias nefastas:
1ª: Segundo a “ordem do mundo” escravos e pobres são isso por natureza (estão, ordem da criação), são isso pela vontade de Deus;
2ª: A idéia de uma reconciliação entre ricos e pobres sem perdão, que passa pelo reconhecimento da culpa e pela reparação (repartilhação) justa;
Quem defende a pobreza como algo natural (divino) ou promove a reconciliação antes do odiar do mundo e fazer justiça pratica uma teologia de dominação;
A cruz como efeito da repressão do pecado
Ao lado dos pobres sistemas idólatras sacrificam também os profetas; sistemas que compreendem o perigo de um golpe mortal contra as suas práticas morais e sua justificativa, atacam o denunciante para que a consciência da massa oprimida não se torna algo incontrolável;
Nesse caso sistema, na defesa do status quo, usa toda força para eliminar o profeta e deconstruir o seu discurso; (falta aqui a percepção que o sistema, normalmente, primeiro tenta de comprar o profeta);
Conclusões

O pecado não e somente individual, mas tem sua forma concreta e histórica: tem seu princípio transcendental (o príncipe desse mundo), um princípio imanente na história (o império) e seus reis e seus anjos (todos os ricos).

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