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quinta-feira, setembro 25, 2014

O PRAZER


MEUS CAROS LEITORES PEÇO DESCULPAS POR ESTAS PROPAGANDAS POSTADAS SEM MINHA AUTORIZAÇÃO.
Rubem Alves                                                           
Quem lê o que escrevi sobre a alegria, talvez pense que eu estava dizendo que a alegria e o prazer não combinam e por isso não se encontram nunca; quando o prazer entra por uma porta, a alegria sai pela outra, como se o prazer estivesse condenado a ser sempre doce no começo e amargo no fim...
Fico até bravo quando me atribuem coisa tão perversa, pois quem me conhece sabe muito bem que acho que o prazer é uma dádiva divina. Se Deus não nos tivesse criado para o prazer, Ele (?) não nos teria dado tantos brinquedos para o corpo, como os gostos, os sons, as cores, as formas, os cheiros, as carícias, e não teria dotado o corpo de tantos órgãos eróticos. Os desatentos pensam que órgãos eróticos são só os genitais, não percebem que erótica é a boca, como naquela cena maravilhosa do filme Nove Semanas e Meia de Amor, a mais erótica que jamais vi, o amante, na cozinha, fazia a amante, de olhos fechados, morder e provar coisinhas de comer. Não é por acaso que comer tenha dois sentidos, nada mais vulgar que reduzir a erótica aos genitais e à cama, logo vira rotina cansativa, que trabalheira, que mão-de-obra, mas é preciso bater o ponto, e assim se prova o meu ponto, que o prazer sozinho acaba por ficar chato, e não percebem que eróticos são os ouvidos. Ah!, como a voz é taça que por vezes está cheia do néctar dos deuses, como também, por vezes, está cheia de uma mistura de losna e fezes. Infernal, erótico é o nariz – quem diria! – de cujas potências nos resta muito pouco, castrados do olfato que somos, tão diferentes dos cachorros que, se fossem homens, não pintariam quadros com cores, pintariam quadros com cheiros – já imaginaram isso? – um museu de quadros pintados a cheiro? Eróticos são os olhos, boca cósmica, por meio deles comemos o universo inteiro, montanhas, árvores, rios, ares, lua e as estrelas, as nuvens, tudo é comida, tudo entra. Dizia Neruda, sou onívoro de sentimentos, de seres, de livros, de acontecimentos e lutas. Comeria toda a terra. Beberia todo o mar. A nossa infelicidade se deve a isso, que não podemos comer com a boca tudo o que comemos com os olhos. E duplamente erótica é a boca, de novo, primeiro porque dentro dela moram os sabores, e agora porque é o lugar supremo do tato, da carícia, o toque molhado dos lábios, a língua, o mordiscar, o beijo...
Dizem os teólogos que Deus fez todas as coisas. Dizem mais que, se Deus fez, é bom. Claro. Seria heresia imaginar que Deus tivesse feito coisa ruim e proibida.
Primeira conclusão: foi Deus que fez este festival de possibilidades de prazer.
Segunda conclusão: se Deus criou tantos jeitos de ter prazer, é porque ele nos destina ao prazer. Confesso que fico horrorizado com o fato de nunca, mas nunca mesmo, ter visto qualquer padre ou pastor pregar sobre o imperativo divino de ter prazer na vida. Ao contrário, estão sempre advertindo, graves e solenes, sobre os perigos do prazer, como se ele fosse coisa do Diabo. Me contaram (recusei-me a acreditar, pelo absurdo da coisa, mas me garantiram ser verdade), que num curso para casais, aconselhava-se que os noivos, sempre que tivessem de ter uma relação sexual (depois de casados, é claro), que se dessem as mãos e rezassem um Padre Nosso. Ai, se eu fosse Deus fulminava um religioso desses com um raio! Pois é mais ou menos como se eu desse uma boneca para a minha neta e lhe dissesse: Olha, Mariana, todas as vezes que você quiser brincar com a sua boneca, chama o vovô ao telefone para pedir permissão, tá?
Pelo que conheço dos doutores em coisas divinas, de cuja companhia privei por longos anos, eles têm ideias diferentes sobre Deus. Pintam-no sempre de cenho carregado, não há registro algum de que ele jamais tenha dado uma boa risada, o que nos obriga a concluir que ele não tenha senso de humor, sempre com seu enorme olho sem pálpebras aberto (e sem pálpebras para não fechar nunca, para não deixar passar nada, Deus te vê, cuidado coro o lugar onde você põe a mão; ao dormir, nos colégios de freiras, as meninas tinham de dormir com as mãos sobre as cobertas). Sua biblioteca só tem livros de ética, ordens, ameaças, advertências, nenhum livro de estética, ou erótica, ou ficção, a despeito de Nosso Senhor Jesus Cristo ter dito que no Reino de Deus só entram crianças, o que nos obrigaria a concluir que Deus também é uma criança, como o fez o Alberto Caeiro, nunca li um tratado sobre os brinquedos de Deus... E eu me pergunto: Como é possível arear um ser assim?
Acho o prazer uma coisa divina. Para ele fomos feitos. O amor, o humor, a comida, a música, o brinquedo, a caminhada, a viagem, a vadiagem, a preguiça, a cama, o banho de cachoeira, o jardim – para estas coisas fomos feitos. Para isso trabalhamos e lutamos: para que o mundo seja um lugar de delícias. Pois esse, somente esse, é o sentido do Paraíso: o lugar onde o corpo experimenta o prazer.


sexta-feira, setembro 19, 2014

MISSÃO EM BELÉM DO PARÁ E A CISÃO NA IGREJA


MEUS CAROS LEITORES PEÇO DESCULPAS POR ESTAS PROPAGANDAS POSTADAS SEM MINHA AUTORIZAÇÃO.

Encontro dos dois Missionários e o Sonho de fazer Missão em Pará.
Os dois Missionários se conheceram numa Igreja sueca no estado de Chicago em 1909 dez anos após a morte do evangelista Dwight l. Moody, que vivia naquela cidade.
O que chamou a atenção de Gunnar Vingren e Daniel Berg para missões transculturais foi uma profecia de um patrício e irmão na fé chamado Adolf Ulldin, proferida na cozinha de sua casa em South Bend, uma cidade no extremo norte de Indiana, no verão de 1910. (CÉSAR, 2000, p. 118).
Os jovens ouviram atentamente as palavras “Adolf Ulldin, narrou-lhes um sonho, em que dois personagens, lhe apareceram, com um nome bem legível, e muito estranho: Pará”. Convictos que era a resposta às orações, e com o sonho de fazer missão no Estado do Pará. Foram a uma biblioteca em busca da origem Pará. (OLIVEIRA, 1997, p. 34). O nome Pará nunca tinha sido visto pelos dois, mas eles sabiam que era um país estrangeiro, logo ao “sul da linha do Equador, na fronteira de uma selva quente e úmida”. (BERG, 1995, p. 53)
A Chegada dos Missionários a Belém do Pará.
Convictos que era um chamado missionário para o Brasil partiram rumo ao Pará. E no dia 19 de novembro de 1910 os Missionários Daniel Berg e Gunnar Vingren, desembarcaram no Brasil, em Belém do Pará. (ALMEIDA, 1993, p. 251).
Alguns anos antes da chegada dos missionários, o Acre estava vivendo nos anos de 1877 o auge da produção da borracha. (ANTUNES, 2007, p.8).
Cerca de 4.600 nordestinos fugindo da seca, se instalaram no Estado do Acre vizinho do Mato Grosso e da Amazônia. No ano de 1900 os imigrantes somavam 158 mil. O Acre se transformou de território indígena em um contingente misto, de estrangeiros e a proporção de negros entre os brasileiros era significativa. A Amazônia viveu nesse período a fama de Estado rico alimentado pelo cultivo e extração da borracha. (CROCE, 2011, p. 146).
A chegada dos Missionários “aconteceu justamente no início do declínio da economia da Amazônia, devido à queda da produção de borracha provocada pelos mercados asiáticos”. (CÉSAR, 2000, p. 119).
Oliveira diz que a situação dos missionários ao desembarcarem no porto de Belém era muito difícil, tinham poucos recursos financeiros, além disso, estavam sozinhos num lugar totalmente desconhecido:
Após desembarcarem em Belém os únicos 16 mil réis foram gastos num dia de hospedagem. Com os níqueis restantes, iriam de bonde, no dia seguinte, em busca da residência do Pastor metodista Justus Nelson, diretor do jornal que, “casualmente”, chegara às mãos de Vingren no quarto onde se haviam hospedado. Para surpresa deles, tratava-se de um conhecido de Vingren, nos Estados Unidos.
Separados para as missões por uma Igreja Batista, nada mais natural encaminhá-los aos irmãos da fé, o que se fez. No dia seguinte, foram muito bem recebidos pelo missionário Erik Nelson. Este, como eles de nacionalidade sueca, convidou-os a cooperarem no trabalho. E ofereceu-lhes o porão da Igreja, onde se alojaram.  (OLIVEIRA, 1997, p. 36).
A Cisão Entre os Pentecostais e os Batistas.
Segundo comentário de César; Shaull (1999, p. 21), houve a cisão entre os Pentecostais e os Batistas, devido à nova forma de culto pentecostal, se bem que uma nova igreja estava prestes a nascer, e a cisão entre eles foi inevitável. Sem nenhuma alternativa para o incidente, que contribuiu para a expulsão dos missionários juntamente com uma minoria de membros batistas.
Em pouco tempo a notícia correu: uma mulher havia falado em línguas, seguida por outras pessoas, o que provocou forte discussão num dia de culto. Na ausência do pastor, o diácono encarregado dos trabalhos afirmou que tais manifestações eram coisas daqueles tempos. Vingren, calmamente, argumentou que era secundário perguntar quem conduz as almas para Deus. O primordial é que um número cada vez maior de almas sejam salvas. Não quero dizer que o senhor, irmão, não esteja com a verdade, mas que não é dono absoluto da verdade. Quiçá lhe falte à verdade sobre o batismo do Espírito Santo e sobre a cura maravilhosa dos enfermos por Jesus; isto pode ser experimentado em nossos dias. Berg e Vingren, porém foram expulsos do templo. (CÉSAR; SHAULL, 1999, p. 21).
As Versões sobre a Cisão entre os Pentecostais e os Batistas.
Somente através de uma pesquisa exaustiva é que podemos chegar a um consenso sobre as divergências históricas, que não foram contadas sobre a verdadeira cisão entre os Pentecostais e os Batistas. Pretendemos citar algumas delas, mas elas não esgotam o assunto.
Versão Assembleiana.
A versão assembleiana diz que, Daniel Berg e Gunnar Vingren até aquele momento estavam ligados à Igreja Batista na América (as igrejas que aceitavam o avivamento permaneciam com o mesmo nome). (ALENCAR, 2010 apud CONDE, 1960: 19). Isso não impediu que houvesse o confronto, pois a atitude dos missionários não foi bem vista aos olhos dos irmãos batistas. De fato não foi uma atitude correta instituindo um culto pentecostal justamente no porão da igreja dos irmãos batistas, onde estavam hospedados.
Segundo comentário de Pepeliascov (1997, p. 55), as reuniões com os missionários juntamente com alguns irmãos batistas duraram aproximadamente três meses. Inconformados com o que estava acontecendo entre os missionários e os irmãos batistas houve a separação entre eles devido a nova forma de culto.
Versão Batista.
Mesquita comenta em poucas palavras sobre o encontro dos missionários com um irmão batista. “Em abril de 1911 desembarcaram em Belém dois missionários suecos que se intitularam batistas. Dirigiram-se imediatamente a Nelson, seu conterrâneo, sendo acolhidos por ele”. (ALENCAR, 2010 apud MESQUITA, 1940: 136).
Pereira comenta sobre o mesmo assunto, só que de forma mais detalhada, assim que os missionários chegaram a Belém do Pará, identificaram-se como batistas, se ofereceram para auxiliar o missionário Eurico Nelson, pedindo-lhe hospedagem. Nelson lhes ofereceu o porão da igreja. Nelson precisou fazer uma viajem ao Sul. “Segundo Emílio Conde, historiador da Assembleia de Deus, eles procuraram o missionário metodista Justus Nelson, e foi esse que, sabendo que eram batistas, levou-os à igreja batista”. Depois de algum tempo, na ausência do pastor Eurico Nelson, “primeiro Gunnar e depois Daniel pediram ingresso na igreja, declarando-se membros de uma igreja batista nos Estados Unidos”. Gunnar Vingren se apresentou como pastor. “A igreja recebeu-os com muita alegria”. (PEREIRA, 1982, p.110, 111).
Pereira comenta sobre os fatos que repercutiram na cisão da igreja, devido certos acontecimentos nos cultos dirigidos pelos dois missionários, juntamente com alguns irmãos batistas:
Mas os dois começaram a realizar reuniões de oração no porão onde residiam. Nessas reuniões havia estranhos ruídos e estranhas línguas. Alguns membros da igreja começaram a adotar as ideias dos recém-vindos. Aumentando o número e chegando ao ponto de haver manifestações pentecostais numa reunião de oração da igreja, e estando o próprio moderador da igreja, José Plácido da Costa, envolvido, o evangelista Raimundo Nobre convocou, com apoio da maioria dos diáconos, uma sessão extraordinária, e os adeptos de Vingren e Berg formam excluídos. A igreja nesse tempo estava com cerca de 170 membros, e os excluídos foram treze. Assim é estranho que o historiador pentecostal Emílio Conde diga que a minoria excluiu a maioria. (PEREIRA, 1982, p. 110, 111). (Grifo meu).
Versão do Pastor Gunnar Vingren.
Segundo comentário do próprio pastor Gunnar Vingren (1982, p. 36, 37) em seu diário, após um culto de oração juntamente com os irmãos batistas, a irmã Celina Albuquerque recebeu o dom das línguas estranhas, isso repercutiu negativamente para os dois missionários. (Grifo meu).
O evangelista que se opusera contra o novo modelo de culto dentro da Igreja Batista disse:
Todos os que estão de acordo com a nova seita, levantem-se. Dezoito irmãos se levantaram e foram imediatamente cortados da comunhão da igreja. O pastor que era um homem verdadeiramente crente e muito sereno orou então a Deus no seu coração e pediu uma palavra. Abriu depois a Bíblia e encontrou o verso que diz: “Pelo que saí do meio deles, e apartai-vos, diz o Senhor, e não toqueis nada imundo, e eu vos receberei; E eu serei para vós Pai e vós sereis para mim filhos e filhas, diz o Senhor todo-poderoso”. (II Co. 6: 17 18).
Estes dezoito irmãos saíram então da igreja batista para nunca mais voltarem. Isto aconteceu em 13 de junho de 1911. (VINGREN, 1982, p. 37).


quinta-feira, setembro 11, 2014

ANTROPOLOGIA ENRIQUE DUSSEL - ÉTICA COMUNITÁRIA

Enrique Dussel. Ética Comunitária. Petrópolis, RJ: Vozes, 1987. 2ª edição (1ª edição 1986) [Coleção teologia e libertação, série III: a libertação na história]

Helmut Renders

Introdução

Proposta: “Ética social” de ponto de vista da TL
Organização: parte I: o fundamental, a partir do mais importante e simples para o mais fundamentada e complexo; parte II: questões atuais na luz da fidelidade ao evangelho
Observação: Base teórica com empréstimos tomistas (Tomás de Aquino) / parecido com Leonardo Boff;
 Parte I: Dez questões fundamentais

Capítulo I: Práxis do Reino

Repetição do primeiro capítulo a partir de conceitos guias de Jung Mo Sung: sentido – desejo – horizonte utópica
Estado da questão
Observação: partido do texto bíblico (!); no caso, da Práxis dos Apóstolos 2, 42-47:
Essência da vida cristã: = práxis; = comunidade [koinonía] estar junto com os outros (mal-entendimento institucional ou eclesiástico possível);
(Na AL as “marcas da igreja = Atos 2, 42-47; na história = Credo Nicaeno-Constantinopolitano: unidade, catolicidade e apostolidade da igreja ”)
Essência do Reino = estar junto a Deus;
 Práxis como ato relação.
Práxis e prático
= 1º o ato humano que se dirige a outra pessoa humana ou a maneira atual de estar a frente ao outro
= 2º a própria relação de duas o mais pessoas
Distinção: praxéis [=relação pessoas-pessoa] = operare porque não colaborare?] não é póeises [ = relação pessoas-natureza] = facere, fazer, produzir com ou em algo]
A pessoa: rosto, corporeidade e o “próximo”.
Pessoa:
Uma pessoa é somente pessoa quando está ante outra pessoa;
Relação pessoa=-pessoa; o “face-a-face” de duas ou mais pessoas é ser pessoa;
Pessoa é carne, todo homem, e a encarnação é a realização de estar frente-a-frente, de construir a proximidade: o outro se torna próximo;
Práxis = atualização da proximidade = da experiência de ser próximo para o próximo = de construir o outro como pessoa = fim da minha ação = respeito infinito (em vez de meio) (?);
A relação como “agápe”.
Distinção: Agápe (amor do outro diferente / expressão máxima amar o inimigo) em vez de Éros (o outro como meio do meio gozo) e filía (amor entre iguais).
O “nós” do face-a-fasce: a comunidade.
Amor cristão algo comunitário, plural, mediante de caridade e justiça
Amor-justiça = amor benevolente = mútuo
Da multidão (oxlós, polloí), mediante do face-a- face da unidade, transforma-se em comunidade (koinonía); na comunidade todas são pessoas-para-pessoas;
Individualidade se realizando plenamente na plena comunicação comunitária (Talvez Habermas: sociedade comunicativa!?)
 Comunidade “eucarística”
Comunidade = fundada no
mútuo amor-de-justiça de participantes livres e plenos como pessoas = celebração da vida plena;
Eucaristia envolve pão = fruto do trabalho e combina a relação pessoa-pessoa como pessoa-natureza;
Eu-caristia = a boa oferenda (cháris = ação de graça)
Ao outro se da o fruto da produção = relação prático-produtiva = uma economia;
Partir o pão = ter todo em comum;
Necessidade, satisfação, festa.
Práxis como ação e relação = visa a sua realização integral e felicidade plena; receber segundo a necessidade = garantir a vida; não ter necessidade critério do juízo final;
O comer junto = festa e antecipação do Reino;
O “Reino de Deus” como face-a-face absoluto.
Reino = realização total do ser humano, positividade absoluta, infinita e irreversível; no primeiro lugar ser pessoa; Jesus proclama o Reino, é morto mas promete um substituo, o Espírito Santo;
O Reino como “já” na comunidade “comunidade”.
Jesus – Espírito: preparação da segunda vinda como tempo da igreja;
A própria comunidade (teologia católica) a própria vida comunitária (teologia protestantes) era “já” o Reino;
O Reino como “mais-além”: a utopia.
O Reino = anunciado (em Jesus), realizado em parte (em todo ser humano de boa vontade, mas de forma privilegiado) na comunidade cristã de base guarda sempre um momento constitutivo do “ainda-não”; O Reino é transcendência absoluta de toda práxis, de todo face-a-face histórico, de toda comunidade e um “mais-além” da toda realização humana;
Reino como realidade = algo mais que eu posso praticar
Reino como categoria = horizonte crítico
Reino, historicamente, = uma promessa;
Reino, uma transcendência escatológica, = princípio absoluto, medida do todo projeto histórico, seja ele reformista ou revolucionário (observação: reformista = restaurativo aqui; restauração / status quo – reforma / revolução)
Conclusões
Princípio radical da ética cristã e comunitária;
Capítulo II: Maldade e morte.
Estado da questão
Reino = felicidade, realização, santidade = o face-a-face das pessoas entre sim e com Deus
Maldade / Mal = interrupção, ruptura, impedimento deste face-a-face. (observação: o conceitos justiça / shalom representam uma idéia parecida)
O mal passa pela dominação do outro, substituída pela relação eu-coisa, sujeito-ojeto em vez de sujeito-sujeito, resultando numa “coisificação” e aniquilação do outro;
O que é a maldade o mal?
Mal como práxis perversa: 1º = negação do outro e coisificação e instrumentalização do outro; a denominação do outro antecede a ofensa de Deus; o Cristo pobre = relaciona o que fazemos ao irmão pobre um fazer a Deus;
Idolatria, fetichismo.
Negando o outro o pecador se totaliza, afirma-se como Deus, fetichiza-se, diviniza-se, idolatra-se e força a ser idolatrizado; o eu mesmo como Deus;
Já o esquecimento do outro é roubo: hoje, o capital tornou-se Deus, é idolatrada quando sacrifica a vida do próximo; Os deuses modernos representam o “pecado moderno”.
Maldade individual ou abstrata.
Comparação do mito de Gêneses 1 e do Prometeu: não a tragédia, não Deuses injustos, mas o mal-uso da liberdade cedida contra o outro origina o mal: a queda do ser humano e fruto da sua própria livre vontade, não imposição divina; duas expressões: o ser humano relaciona-se como o outro ou como dominador ou dominado e cria-se sistemas de responsabilidade opressoras;  
Pecado social ou concreto.
O pecado individual é abstrato, porém, o pecado é cometido em relação ela é institucional = “conforme o modo de os indivíduos se comportarem de maneira estável e relacionada”; o domínio estável do outro é institucional por estabelecer um tipo de relação social estável;
O pecado “hereditário
Distinção inicial entre Agostinho e Pelágio:
Pelágio = o pecado é herdado comportamentalmente (observação: escola antropológica);
Agostinho = o pecado é constitutivo para o nosso “ser” (observação: escola ontológica);
Ser = ser social; o pecado expressa-se no ser dominador ou ser dominado = desprezar o outro; cada pessoa que chega na idade que possibilitaria a liberdade efetiva (psicologicamente na adolescência), ela já é inclusa no sistema pelo papel social, pela classe social, etc.
“O pecado é transmitido pelas instituições, estruturas culturais, políticas, econômicas, religiosos, eróticas etc.” por eles herdamos uma práxis equivocada (observação: Tillich chama isso a tragédia do pecado).
O “pobre”.
Pobre = ato principal dele não é não ter bens, mas o “estar dominado”; a alienação do outro (fruto da práxis do pecador) produz assim a pobreza do pobre (fruto do pecado);
A “morte”.
A causa da morte eterna é a vida que vive da morte do outro, do pobre; (muitos textos bíblicos, pouca argumentação consecutiva).
Consciência e responsabilidade.
Pecado como herança da relação social não impede nem consciência do pecado nem a noção da (ir) responsabilidade em relação a práxis alienadora;
Apesar de que cada um assume o seu lugar no sistema do pecado num processo não sempre consciente, há conscientes atos de afirmar e reafirmar o poder, o gozo, a cultura; há uma autoconsciência na humilhação, no desprezo; A afirmação é responsabilidade, reafirmação (observação: e re-justificação do direito domínio, do não-direto da revolta);  a consciência se manifesta pela permanente necessidades de auto-justificação e pela busca de des-culpas; 
O “Príncipe desse mundo”.
O pecado é não apenas individual ou social, histórico, institucional, relação social, mas organiza-se, tem consciência de si, funciona como sujeito: Satã, o “Poder”, o maligno; importante não é objetivação desse mal num espírito puro substantivo e pessoal – fato que não negamos – mas a compreender a sua práxis: a dominação do outro (ser senhor do outro alienado);
Pecador, o “rico” = enviado pelo “Príncipe deste mundo” para institucionalizar seu reinado = estruturas históricas do espaço como “relação social”;
Conclusão
Maldade e morte descreve o oposto de Práxis e Reino: = impedimento da construção de comunidade por afirmar a individualidade contra essa comunidade em vez da realização mútua da autêntica individualidade e comunidade; a anticomunidade da individualidade fetichza a individualidade, destrói-se mediante da morte do pobre; (observação: que falta aqui (ainda?) é o perigo do totalitarismo, o impedimento da construção da individualidade pela comunidade).   

 Capítulo III: Moral “social” vigente: o “princípio babilônico”

(Observação: essa parte é muito parecido a palestra do palestrante de Chicago, na SET 2005: “Lutar contra o espírito do império”).
Estado da questão
O mal, o pecadoindividual subsumido no social - organiza-se e institucionaliza-se;
Distinções necessárias.
O autor estabelece uma distinção fundamental para seu discurso:
Moral (latim) = sistema prático da ordem vigente e estabelecida (Observação: discurso do status quo), justificando o sistema;
Ética (grego) = futura ordem libertadora, exigindo respeito ao pobre:
Corresponde a essa distinção.
Social = ordem vigente, condição do ser humano.
Comunidade, comunitário = ordem futuro do face-a-face segundo o amor-justiça; ordem utópica que permite criticar a ordem social vigente (razão do título: ética comunitária);
Qualquer práxis pode ser boa para o moral vigente ou para uma ética libertadora;  
“Este mundo”.
Definição: Mundo, cosmo, ordem, um universo com certa ordem totalizada, fetichizada, fechada sobre sim; 
A “carne”.
Definição: Carne aqui não corporeidade ou lugar de onde nascem os desejos, mas também uma ordem, ordem “natural” do ser humano, o aspecto passional e subjetivo onde se exerce o império do mundo; o ser humano como “carne” segue ativamente da ordem do mundo, do império;
O “Princípio-babilônico”
Totalidade da estrutura das práticas do pecado; fisionomias históricas diferentes: Egito, Babilônia, (falta Roma);  característica = o sistema fecha-se sobre si mesmo, seu projeto histórico se sobrepõe ao projeto histórico da humanidade, do humano; suas leis tornam-se naturais, suas virtudes perfeitas, os que re-sistem se torna terroristas;
O sistema de práticas mortais.
Cada sistema estabelece suas práticas como boas: a perversão é agora bondosa e justa; acompanhada por uma ideologia como encobrimento da realidade dominadora justificando a sua práxis como se fosse o próprio Reino de Deus;
Moralidade da práxis.
Moralidade define-se sobretudo como  relação existencial com a norma ou a lei estabelecida; a moralidade carece um critério de lei justa, do imposto justo, do salário justo etc. O sistema critica menos o ladrão que rouba (por ser ainda mal integrada no sistema, o por se mal integrar no sistema) e mais o profeta que questiona por que se deve seguir e amar a lei desse mundo; 
Consciência “moral”.
O mundo, a cultura informa a consciência moral dos seres humanos em seu alcanço; classicamente, essa consciência moral afirma o comprimento das leis em vigor(não roubar etc.), mas não leva a análise das injustiças encobertas pelo sistema (sofrimento do pobre é eticamente menos relevante do a defesa da propriedade pessoal); a consciência moral traz a consciência tranqüila dos que participam no sistema; 
O pobre por “natureza”.
Duas teologias nefastas:
1ª: Segundo a “ordem do mundo” escravos e pobres são isso por natureza (estão, ordem da criação), são isso pela vontade de Deus;
2ª: A idéia de uma reconciliação entre ricos e pobres sem perdão, que passa pelo reconhecimento da culpa e pela reparação (repartilhação) justa;
Quem defende a pobreza como algo natural (divino) ou promove a reconciliação antes do odiar do mundo e fazer justiça pratica uma teologia de dominação;
A cruz como efeito da repressão do pecado
Ao lado dos pobres sistemas idólatras sacrificam também os profetas; sistemas que compreendem o perigo de um golpe mortal contra as suas práticas morais e sua justificativa, atacam o denunciante para que a consciência da massa oprimida não se torna algo incontrolável;
Nesse caso sistema, na defesa do status quo, usa toda força para eliminar o profeta e deconstruir o seu discurso; (falta aqui a percepção que o sistema, normalmente, primeiro tenta de comprar o profeta);
Conclusões

O pecado não e somente individual, mas tem sua forma concreta e histórica: tem seu princípio transcendental (o príncipe desse mundo), um princípio imanente na história (o império) e seus reis e seus anjos (todos os ricos).

terça-feira, setembro 09, 2014

A FUNDAÇÃO DA ASSEMBLEIA DE DEUS NO BRASIL

Segundo as versões expostas anteriormente, cada uma com sua justificativa, todas querendo demonstrar o fato real, explicando como aconteceu a cisão. Mas isso não repercute em nada frente o fato ocorrido, e nada pode ser feito para impedir que a cisão ocorresse entre os missionários pentecostais e os irmãos da Igreja Batista.
Assim que os missionários foram expulsos da Igreja Batista, “lá fora um grupo de batistas os esperava e assim surgia a Assembleia de Deus (Missão da Fé Apostólica). Hoje duas vezes maior do que a sua correspondente nos Estados Unidos”. (CÉSAR; SHAULL, 1999, p. 21).
De acordo com Pereira (1982, p. 110, 111) “surgiu numa Igreja Batista, a Primeira Assembleia de Deus em Belém do Pará”. Cf. o que disse o Apóstolo Paulo. (IICo. 10:15-17).
Hurlbut (1993, p. 231) também confirma a história da Assembleia de Deus, e comenta sobre a função de Gunnar Vingen como ex-pastor Batista: “A maior Igreja Pentecostal de todos os tempos foi fundada a 18 de junho de 1911 na cidade brasileira de Belém, capital do Pará”. Pelos Missionários Daniel Berg e Gunnar Vingren: “ex- Pastor Gunnar Vingren da Igreja Swedish Baptist Church, (Igreja Batista Sueca), de Menominee, Michigan, Estados Unidos da América”.
Alencar comenta alguns detalhes sobre a Igreja Assembleia de Deus: “Como dois suecos solitários iniciaram acidentalmente essa igreja que veio a ser a maior instituição evangélica do planeta e, apesar disto, que efeito causa na vida sociocultural deste país”? (ALENCAR, 2010, p. 21).
Outro fato a ser considerado segundo comentário de: “Eurico Bergston, finlandês, poucos meses antes de morrer (quando foi entrevistado), fez questão de dizer que o “segredo do crescimento da Assembleia de Deus no Brasil foi a firmeza da doutrina dos suecos””.  (ALENCAR, 2010, p. 99).
A Oficialização do Nome Assembleia de Deus.
Poucos brasileiros sabem ao certo a origem da nomeação da Igreja com o nome Assembleia de Deus. Segundo González, E; González, L. (2010, p. 415), desejosos de mudar o nome da Igreja, juntamente com outros obreiros, da recém-fundada Igreja, denominando-se Missão da Fé Apostólica, no ano de 1911.
Após entrarem em acordo com as Assembleias de Deus nos Estados Unidos (“fundada pelo irmão E. N. Bell”) obtiveram junto a Igreja americana o direito de nomear a Igreja brasileira com o mesmo nome. (DANTAS; SANTOS e ROCHA, 2010. p, 29).
 “Após cinco anos e sete meses da sua fundação. Compreendendo um período de 18 de junho de 1911 a 11 de janeiro de 1918”, a Igreja foi registrada e passou a se chamar juridicamente pelo nome de Assembleia de Deus. (PEPELIASCOV, 1997, p. 56).
A Resistência a Implantação de Seminários Teológicos.
Entre tantas crises ocorridas na Assembleia de Deus, uma delas tornou-se luta de resistência pela liderança quanto à implantação de Seminários Teológicos. Após 12 anos da sua fundação começou a luta pela implantação dos Seminários, mas isso só veio acontecer muitos anos depois.
O pastor Gunnar Vingren silenciou-se, e o pastor Paulo Leivas Macalão se opôs contrário à implantação dos mesmos. “O missionário Lawrence Olson propôs a abertura de institutos bíblicos e, escolas teológicas e seminários pelo país”. O projeto de Olson foi contestado pelo pastor Paulo Leivas Macalão da Assembleia de Deus em Madureira, Macalão afirmava que seria “perigoso investir na educação teológica do obreiro”. “Segundo ele, a muita sabedoria, o muito estudo e o intelectualismo poderiam esfriar espiritualmente a alma”. (CÉSAR, 2011, p. 25). Esse pensamento ainda existe entre a maioria dos pentecostais.
A honra da fundação do primeiro Seminário foi concretizada por um pastor que chegara dos EUA. O nome desse seminário teológico era o “IBAD – Instituto Bíblico das Assembleias de Deus, fundado em 1958 pelo pastor João Kolenda Lemos, brasileiro, descendente de alemães. Sua esposa, Ruth Doris Lemos, pastora assembleiana, é norte-americana”. Na época da fundação do Instituto “foram tratados como “desviados, rebeldes” e não foram excluídos da Assembleia de Deus porque, embora no Brasil, permaneceram filiados à Assembleia de Deus nos EUA”. (ALENCAR, 2010, p. 92).
Curso Teológico para Aspirantes ao Ofício de Obreiro.
Quanto a Igreja recomendar que os aspirantes ao ofício de Obreiro tivessem formação teológica. César (2011, p. 26) comenta que: “a partir de 1983, recomendava-se oficialmente que os candidatos ao “santo ministério, que fossem qualificados teologicamente para o manejo da Palavra”. O pastor Walter Brunelli, já havia advertido à Convenção de 1981” sobre a falta de conhecimentos teológicos dos membros assembleianos ao dizer que:
Sofremos hoje problemas de infraestrutura, por não ter havido no passado uma preocupação com a educação teológica. A ênfase demasiada na obra do Espírito Santo talvez tenha originado o conceito de que era desnecessária qualquer preocupação nesse sentido. Creio que caímos num tipo de pietismo que levou as pessoas a dizerem coisas exageradas e a quererem que o Espírito Santo as endossassem. Deveria haver equilíbrio, e com um conhecimento mais apropriado da Palavra de Deus poderia levar os obreiros a esse estado de equilíbrio. (CÉSAR, 2011, p. 26). (Grifo meu). Esse desequilíbrio ainda continua nos dias de hoje.
A Fragmentação das Igrejas Pentecostais Brasileiras.
Conforme Mariano (2005, p. 23) ficou demonstrado em suas pesquisas à falta de homogeneidade no pentecostalismo brasileiro, segue-se assim, a sua explicação:
O pentecostalismo brasileiro nunca foi homogêneo. Desde o início, conteve diferenças internas. Congregação Cristã e Assembleia de Deus, as duas primeiras igrejas pentecostais fundadas no Brasil, a primeira em 1910, a segunda em 1911, sempre apresentaram claras distinções eclesiásticas e doutrinárias que, com o passar do tempo, geraram formas e estratégias evangelísticas e de inserção sociais bem distintas. Na década de 1950, com a chegada dos missionários da Cruzada Nacional de Evangelização, vinculados à Igreja do Evangelho Quadrangular, teve início a fragmentação denominacional do pentecostalismo. (MARIANO, 2005, p. 23, 25).
No mundo competitivo na questão pentecostal, devem-se levar em conta outros fatores nessa fragmentação do pentecostalismo das Assembleias de Deus com o surgimento também dos movimentos, com poucas ou nenhumas estruturas teológicas como: “gospel, ou neo-pentecostalismo, pós-pentecostalismo, pós-denominacionalismo, quando o “mercado religioso” está cada vez mais competitivo”. (ALENCAR, 2010, p. 52).
Droogeres comenta sobre o universo pentecostal inverso, visto sob a ótica pentecostal globalizada, ele torna-se um indivíduo singular, no meio de uma comunidade cristã, há quem diga que os pentecostais não vivem em comunidade, as disputas tornaram suas mensagens individuais, mesmo sendo compartilhada em um mundo competitivo pelo espaço eclesiástico.
“A mensagem pentecostal tornou-se concorrente forte, devido ao que se oferecem as pessoas em crise pelo sistema em que vivem podendo “recuperar o seu sentido de autoestima””. Sua mensagem tem como objetivo procurar soluções na busca individual oferecendo “orientação confiável e convincente na vida e, além disso, oferece uma fórmula que corresponde à escala do mundo globalizado, ou seja, interatividade pessoal em um mundo global”. (DROOGERES, 2010, p. 24).


quinta-feira, setembro 04, 2014

ARQUEOLOGIA - O DILÚVIO BÍBLICO E OS FATOS

Denominada pelos turcos de Aghri Dag, Montanha de sofrimentos, tais as dificuldades para a sua escalada, o Monte Ararat, de 5.165 m, junto às fronteiras da Turquia, do Irã e da União Soviética, foi vencido em 1954 pelo norte-americano Jhon Liibi e alguns auxiliares, numa tentativa de localizar a arca de Noé, que segundo a narrativa bíblica, pousou num de seus montes.
Vencidos os obstáculos da sua ascensão, Liibi convenceu-se de tê-lo visto de uma distância de apenas 60 metros e descreveu-a como um volume semelhante, pelo aspecto, a um navio de feitio retangular. Todavia, não a pôde tocar, impedido por uma tempestade e grandes blocos de gelo. Voltou ao mesmo local no dia seguinte, quando a tempestade desapareceu, mas outro imprevisto o fez, de novo, desistir: dois ursos, corpulentos e enfurecidos, a lembrarem de dragões de velhas lendas, lhe barraram o caminho. Dois turcos que acompanhavam, em tentativa isolada, chegaram à mesma distância da Arca, mas recuaram. E comunicaram para Ancara, num relatório, que a Arca estivera em frente de seus olhos.
Liibi e seus auxiliares não foram os primeiros a testificarem de ter visto a Arca de Noé. Vários pilotos militares, durante a primeira e a segunda Guerra Mundial, ao sobrevoarem aquela região montanhosa, viram e fotografaram o que lhes parecia o casco de um enorme navio, semicoberto pelo gelo. Um piloto russo, em 1917, afirmou ter notado os restos dum estranho navio e uma expedição russa até o teria fotografado.
Mais recentemente, o Instituto Ártico da América do Norte, provavelmente a maior organização destinada à pesquisa polar no continente americano, decidiu ajudar na remoção de gelo que cobre uma maciça estrutura de madeira, pesando cerca de 50 toneladas, num dos picos do Ararat. A iniciativa da conceituada organização americana foi motivada por uma série de notícias relacionadas com o Dilúvio bíblico, inclusive pelo anúncio feito pelo industrial francês Fernand Navarro, que realizou duas expedições ao possível local da arca, em 1955 e 1969, e disse estar convencido da descoberta dos restos da Arca de Noé.
Amostra das pranchas de madeira descobertas por Navarro foram analisadas com base na cor, mudança de densidade e no grau de lignificação, atribuíram-lhes uma idade entre 4.500 e 5.000 anos. Submetidas ao moderno método de datar carbono radioativo (C14), os resultados da análise não corresponderam à idade em que o Dilúvio teria ocorrido, pois segundo os analistas, a Madeira dataria cerca do ano 600 da nossa era. Todavia, é bom lembrar que este último processo de datar não se tem mostrado seguro, havendo vários casos em que partes de uma amostra, analisadas pelo mesmo processo, mas em laboratórios distantes uns dos outros, acusaram diferenças absurdas, de milhares de anos. O fato mais significativo em relação à madeira atribuída à Arca de Noé foi divulgado por membros de uma expedição enviada ao local do achado: Disseram que o Serviço Florestal dos Estados Unidos havia identificado a madeira como sendo uma espécie de carvalho branco, que não cresce num raio de 500 kilometros da montanha!
O pesquisador norte-americano, To Crostser, revelou em 1974 ter achado aquilo que julga ser a carcaça da Arca de Noé, presa num glaciário do monte Ararat. Depois de observar em fotografias tiradas por satélites uma forma que aprecia um navio, Crostser FEA quatro expedições que lhe permitiram trazer pedaços de madeira, cuja idade foi computada em 4.000 a 5.000 anos.
Tais testemunhos em favor da historicidade do Dilúvio somam-se às conclusões de especialistas nas áreas da Geologia, Arqueologia, Paleontologia, Etnologia e outras ciências. As três primeiras falam de conchas do mar encontradas em elevadas montanhas e da existência de abundantes restos de seres vivos em camadas inferiores da Terra, enquanto a quarta ciência faz referência a muitas tradições guardadas por todos os povos antigos acerca de um grande dilúvio.
A LIÇÃO DOS MAMUTES
No longínquo norte, onde inexistiam quaisquer vestígios de vegetação, a presença de milhares de animais imersos ou sei-imersos nas geleiras vem intrigando a Paleontologia, ciência que estuda os fósseis. Trata-se de mamutes, um tipo extinto já há milênios, cujos espécimes parecem com os atuais elefantes, sendo, porém, bem maiores do que estes. Eles apresentam-se aos cientistas perfeitamente conservados, em virtude do permanente congelamento, ao ponto de sua carne apropriar-se à alimentação.
Até aqui nenhuma grande dificuldade, não fosse à presença de erva verde no estômago destes gigantes antediluvianos, e com a agravante de, em inúmeros casos, esse tipo de alimentação encontrar-se em seus próprios dentes. Como explicar este mistério?
Sempre dispostos a aceitar desafios, os cientistas lançam Mao de inúmeras teorias, sendo uma delas a que se segue: Em época remota, talvez há algumas dezenas de milhões de anos, bem antes do aparecimento do homem, a Terra encontrava-se numa fase de resfriamento em que milhares de vulcões permaneciam em constante atividade lançando lavas a dezenas de quilômetros. Os continentes eram periodicamente castigados por grandes enchentes, varridos por tufões e sacudidos por violentos terremotos. Numa dessas ocasiões, dizem os cientistas, um cataclismo abateu-se sobre a Terra: enquanto esta era sacudida, um tufão de enormes proporções arremessava as águas do oceano no sentido sul-norte, provocando o afogamento de incontestável número de animais e lançando muitas delas até a região ártica, onde ainda jazem.
Discordando, porém, desse tipo de raciocínio forçado, pesquisadores cristãos sugerem terem sido os mamutes surpreendidos por um dilúvio repentino, sem tempo sequer de terminarem uma refeição, juntando um argumento biblicamente válido: no passado as zonas quentes avançavam até as proximidades dos polos, permitindo a abundância de pastos férteis nesses lugares, onde viviam grandes manadas de seres vivos.
A propósito dessas questões tão polêmicas, um jornal carioca registrou que “aterra antediluviana era como uma estufa global, de clima ameno e uniforme. A Antártida era certa vez uma terra verdejante, com flores e pássaros cantando nas árvores. Peixes, aos milhões, enterrados nas rochas da Inglaterra, Alemanha, Suíça; elefantes e rinocerontes sepultados, aos milhões no Alasca, na Sibéria, na Inglaterra, na Itália, na Grécia; ao mesmo se dá com répteis no Canadá, nos Estados Unidos, na América do Sul, na África, na Austrália, para se mencionar apenas alguns de tais casos, exige positivamente a explicação de grandes catástrofes, para sua completa elucidação. Escavações de arqueólogos, em anos recentes, provam que houve realmente um dilúvio. Quase em cada cultura, emergem contos notavelmente similares sobre um grande dilúvio. Amostras do fundo do mar confirmaram a existência de tal dilúvio universal”. (1)
(1) Última Hora, Rio, 24/5/79.
ALTERADO O SISTEMA AERO-TELÚRICO
Apesar de a Bíblia não indicar as razões da mudança de clima, uma possível explicação talvez esteja na queda do grande dossel aquoso, em forma de chuva. Esta hipótese, defendida hoje por muitos e recomendados cientistas, dentre eles Vail e H. Rimmer pode justificar as idades avançadíssimas dos homens antediluvianos e aclarar a existência dos dinossauros, tais como o Diploducus, o Aelosauros, o Oviraptor, o Estegossauro, o Braquiossauro, o Iguanadonte, o Brontossauro, e muitos outros, cujas ossadas estão expostas nos museus de História Natural de todo o mundo. Assim, a Terra antediluviana inteiramente envolvida por uma lente de gelo – o firmamento (2) – a qual a protegia parcialmente das influências prejudiciais dos raios cósmicos. E com a queda daquela grande lençol de água, os raios solares, agora mais fortes, teriam ocasionado maiores diferenças de temperatura entre as regiões polares e equatoriais, dando origem aos climas fortes. Esta interpretação em nada origem contraria as Escrituras, pois estas não fazem referência alguma a chuvas antes do Dilúvio, afirmando, todavia, que “um vapor, porém, subia da terra, e regava toda a terra.” (3) Aqui estaria a solução do problema dos mamutes.
(2) Gn 1. 6, 7. (3) Gn 2. 6.  (4) Gn 9. 21.
Esta é também a opinião do Dr. Robert Northrupt, erudito em Geologia e professor de Estudos Semitas no Batist Bible Seminary em Clark´s Simmit, Pensilvânia, EUA. Referindo-se aos dinossauros, aquele especialista afirmou: “E enquanto examino a evidência, descubro grandes provas de que os dinossauros não estavam completamente felizes vivendo após o dilúvio. Não era o seu mundo. Seu mundo era antes do dilúvio, quando havia um grande dossel de águas cristalinas acima da atmosfera. E aquelas criaturas estavam perfeitamente adaptadas ao mundo que coexistiu entre Adão e Noé. Não acho que eram carnívoras. E nisto tomo por base Gn 1. 27. Todas as criaturas deveriam alimentar-se de vegetação. A primeira menção de atividades carnívoras encontra-se em Gn 9. Foi dada permissão ao homem para comer carne; o homem foi avisado dos animais que poderiam matá-lo e foi-lhe dado o direito de matar animais. Mas pode ser aquelas compactas mutações ocorreram imediatamente após o dilúvio, devido à intensa radiação solar. Aquelas criaturas pré-diluvianas não experimentaram a radiação que estamos sofrendo continuamente até hoje. Nós vivemos com ela e estamos adaptadas a ela. Mas eles não estavam adaptados e podem ter sofrido enormes mudanças, mudanças prejudiciais.”
É notório o fato de Noé ter-se embriagado com o suco de uva, depois do Dilúvio, (4) quando não há na Bíblia nenhum relato de embriaguez antes daquela data. São os raios solares, tais como os conhecemos hoje, os responsáveis pela fermentação de determinados produtos vegetais.
PROVAS ARQUEOLÓGICAS
Em 1922, Sir Leonard Wooley, arqueólogo inglês, iniciou uma série de escavações no deserto mesopotâmio, no lugar da bíblica cidade de Ur, uma das principais da Suméria. Depois de descobrir os cemitérios reais de Ur, com fabulosas obras de arte e centenas de objetos de ouro, Wooley ordenou aos seus trabalhadores que cavassem mais fundo. Através de tijolos decompostos, as ferramentas foram abrindo caminho até a camada de lama limpa depositada por água. Como explicar a presença de lama, a não ser por meio de um dilúvio?
As escavações prosseguiram por mais 2,5 m de argila limpa, até encontrarem-se restos de uma civilização do final da Idade da Pedra. As dúvidas desapareceram: era o Dilúvio.
Cinquenta anos mais tarde, um navio oceanográfico dos Estados Unidos recolheu vários extratos de sedimentos submarinos no Golfo do México, comprovando-se a concorrência, há cerca de 10 a 12 mil anos, de uma grande inundação universal. Segundo os cientistas – Cesare Emiliani (Universidade de Miami), James kennett (Universidade de Rhode Island) e Nicholas Shackleton (Universidade de Cambridge) – que examinaram tais extratos, uma grande quantidade de água doce tinha caído no Golfo do México. Mas como?
A teoria apresentada pelos peritos faz referência a um colapso súbito sofrido pela calota polar, que se derreteu, inundando os continentes e fazendo subir em dezenas de metros o nível dos mares. “Não há dúvida de que houve uma enchente, e ela foi universal”, concluiu Emiliani. (5)
(5) Seleções do Reader´s Digest, janeiro de 1978.  (6) Gn 7. 11, 12, 18, 19.
(7) Gn 6. 19, 20; 7. 2.
A Bíblia, por sua vez, fala de chuvas fortes e constantes: “naquele mesmo dia se romperam todas as fontes do grande abismo, e as janelas do céu se abriram e houve chuva sobre a terra quarenta dias e quarenta noites. Esteve o dilúvio quarenta dias sobre a Terra; a arca andava sobre as águas. E as águas prevaleceram excessivamente sobre a terra; e todos os altos montes, que havia debaixo de todo o céu, foram cobertos.” (6).
O PROBLEMA DOS BICHOS
Voltemos á arca. Caberiam nela todos os animais exigidos por Deus? Note-se que dos animais limpos deveriam ser preservados sete casais de cada espécie, e nos demais casos um casal. (7) Haveria espaço e alimento suficientes para todos?
Somados os seus três pavimentos, as dimensões da arca chegam a mais de nove mil metros quadrados, com uma capacidade de carga de aproximadamente 43 mil toneladas. Possivelmente uma embarcação descomunal para sua época.
Vejamos o testemunho do Dr. Alfredo Russel Wallace, autor de Distribuição Geográfica dos Animais: “Existem cerca de 1700 espécies de mamíferos, 10. 087 de aves, 987 de répteis, e aproximadamente 1000.000 de insetos, pelo menos sete pares. Ora, a questão é a seguinte: Como pôde Noé abrigar na arca todos esses animais”?
“Os mamíferos variam de tamanho. O Dr. Wallace dá como termo médio o gato doméstico, de modo que nós faremos o cálculo sobre esta base. Cada andar tinha 3. 037 metros quadrados de área, de maneira que, um só pavimento, digamos o primeiro, 3. 400 teriam quase um metro quadrado de espaço cada um; e, considerando o tamanho médio que propomos, esse espaço seria mais que bastante. Naturalmente precisamos de lugar para depósito de mantimentos; mas lembremo-nos de que resta bastante espaço acima dos animais, e esse resto dos 4, 20 metros de altura pode ser usado para forragem.
“O segundo andar deixemos para os insetos e os répteis, bem como o seu alimento. Nesse espaço de 3. 037 metros quadrados temos de abrigar 200. 000 insetos e 1974 répteis. Os insetos, naturalmente, são maiores. O cálculo mostra-nos que temos cerca de 150 centímetros quadrados para cada um. Isto sem dúvida provê espaço mais que suficiente.
“Resta-nos ainda todo o andar superior, o terceiro, para Noé e sua família, de sete membros, juntamente com 20. 174 aves para lhes fazerem música. As aves são, na média, pequenas, pois predominam as espécies menores, mas poderemos conceder 1.350 centímetros a cada uma, e assim mesmo as maiores terão bastante lugar.” (8)
(8) Luiz Waldvogel, Vencedor em Todas as Batalhas, Casa Publicadora Brasileira, pág. 68.
Há, ainda, mais alguns fatos curiosos em relação à arca: esta tinha de comprimento seis vezes a sua largura. O aperfeiçoamento da arte náutica, através de milênios, levou os estaleiros navais modernos, inconscientemente, a se aproximarem das proporções da arca, porém em ponto reduzido. Era pesada e difícil de dirigir, mas sua capacidade de carga era um terço a mais que os navios ordinários das mesmas dimensões.
FALTAM AS TRADIÇÕES
No ano de 1872 o assiriólogo George Smith decifrou, no Museu Britânico, a escritura de um tablete de argila desenterrado em 1850 por Sr. Henry Layard. Esse tablete ficou famoso como “A epopeia de Gilgamesh”, um poema que conta a história de como um homem chamado Utnapistim e sua mulher construiu um barco e tornaram-se os únicos sobreviventes de um dilúvio universal.
São inúmeras as tradições acerca do Dilúvio, encontradas em quase todos os povos antigos: caldeus, fenícios, sírios, armênios, tribos indígenas norte-americanas, gregos, etc. Roque Monteiro do Amaral classifica estas tradições em quatro ciclos e fala do segundo deles: “As tradições chinesas guardam não poucas semelhanças com a narrativa bíblica. Fah-he, admitindo como tendo sido o originador da civilização chinesa, teria sobrevivido ao Dilúvio. É-nos ele representado como constituindo-se em novo início da humanidade, juntamente com sete companheiros – a esposa, três filhos e três filhas. Processaram-se os casamentos e, consequentemente, novo povoamento da superfície da terra se veio a verificar depois do Dilúvio.
“Da Índia nos chega outra tradição assim: Brahma teria prevenido a Mam da ocorrência próxima do dilúvio. Determinou-lhe, então, que construísse uma embarcação que fosse capaz de conter em seu interior alguns pares das várias espécies de animais. O próprio Brahma, metamorfoseado em peixe, teria empolgado a tal embarcação de modo a fazê-la ancorar nas cimas do monte Himarate (Himalaia).
“Mam teria passado, depois disso, a dar origem a uma nova humanidade.” (9).
(9) E o Dilúvio Aconteceu, 1973, pág. 207.  (10) Mt 24. 37-39
Bibliografia: ALMEIDA, de Abraão. O Dilúvio e os fatos. Rio de Janeiro, CPAD, Ano?

E para concluir com chave de ouro, mencionaremos o testemunho superior de quem é digno de todo crédito: Jesus Cristo. Ele falou dos antediluvianos, de Noé, da arca e do Dilúvio não como reportando a uma lenda, mas a um fato histórico digno de construir-se em séria advertência para todos nós: “E, como foi nos dia de Noé, assim será também a vinda do Filho do Homem. Portanto, assim como nos dias anteriores ao dilúvio, comiam, bebiam, casavam-se e davam-se em casamento, até o dia em que veio o dilúvio, e os levou a todos, – assim será também a vinda do Filho do Homem.” (10).

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