A liturgia da Palavra
nos remete ao Antigo Testamento e adentrando ao Novo Testamento em relação às
celebrações dos cultos na Sinagoga judaica. De certa forma a Igreja adotou boa parte
deste sistema de culto e da sua mentalidade, fazendo desse modo uma forma de
rememoração. Segundo White é possível observarmos que as estruturas judaicas do
culto na sinagoga bem como seus ideais subjetivos foram uma das formas de
tornar possível o culto cristão.
O oficio
sinagogal judaico e sua mentalidade está subjacente à liturgia cristã da
palavra. Portanto, precisamos perguntar quais as funções preenchidas pelo
ofício sinagogal. Por estranho que pareça, ele parece ter surgido para
preencher uma função nacionalista, a sobrevivência de Israel durante o exílio
na Babilônia. Embora nos faltem informações claras sobre as origens do ofício
sinagogal, ele parece ter-se originado em algum momento no séc. 6 a.C., quando
os judeus se encontravam cativos na Babilônia. O templo de Jerusalém estava em
ruínas e o culto nacionalizado, cujo centro lá se encontrava, fora interrompido
abruptamente. Não havia maneira de retomar em outro lugar o culto sacrifical do
templo, que naquela época se identificava exclusivamente com Jerusalém. Um novo
início precisava ser encetado para que Israel pudesse sobreviver. (WHITE 1997,
p. 112).
“E
percorria Jesus toda a Galiléia, ensinando nas suas sinagogas, e pregando o
evangelho do Reino,...” (Mateus 4: 23).
Israel ao longo do tempo
conseguiu sobreviver aos ataques inimigos, mas persistiu com seu culto
sinagogal, enquanto diversos reinos foram dissipados pela espada. Graças ao
poder de recordação, reforçado pelo seu modo de cultuar a Deus de geração após
geração, foi formidável para si e para a tirania babilônica. Os israelitas cedo
acharam por bem registrar escrevendo suas memórias relatando as ações de Deus
que era muito útil para que fossem lembrados os grandes feitos de Deus,
tornando desse modo os judeus um povo singular. A sinagoga era um lugar
propício para que esses escritos fossem ensinados. Essa memória era motivo de
regozijo, pois elas tomavam vida quando eram lidas oralmente num tom alto,
também quando ela era tida como objeto de reflexão e de regozijo na comunidade
reunida para tal propósito. (WHITE, 1997, p. 112).
Segundo White (1997, p.
112) “Judeus exilados e saudosos de sua terra natal se reuniam para ler,
refletir e regozijar-se no que Deus fizera para seu povo. E a cada vez que
faziam essas coisas, sua identidade era renovada”.
As condições para ser realizado esse
tipo de culto ou instrução, não havia necessidade de templo ou mesmo de
sacerdotes. Essas reuniões eram realizadas por pessoas leigas; para isso era
necessário que houvesse dez homens judeus, para que fosse considerada como uma
sinagoga. Para que fossem realizadas essas reuniões, era necessário um livro e
as pessoas. Não há como exagerar o sistema leigo de semelhante culto. “O cerne
do culto sinagogal é a identificação com as memórias coletivas da comunidade e
a respeito daquilo que Deus fez pelo seu povo. E a palavra falada é o meio pelo
qual isso ocorre”. (WHITE, 1997, p. 113).
Assim era o
culto com que estavam familiarizados os primeiros cristãos, a maioria dos quais
eram judeus. Percebemos fragmentos desse culto na sinagoga de Nazaré em Lc. 4.
16-28. Jesus fez a leitura do profeta Isaías e sentou-se para pregar. Na
sinagoga de Antioquia da Pisídia, “depois da leitura da lei e dos profetas, os
chefes da sinagoga” convidaram Paulo e seus companheiros a falar (At. 13: 15).
Tratava-se de um estilo de culto profundamente familiar aos primeiros cristãos;
seu Senhor o havia sancionado ao frequentá-lo com regularidade (Lc. 4: 16), e
os apóstolos o tinham utilizado plenamente. (WHITE, 1997, P. 113).
Os cristãos convertidos
do judaísmo ao cristianismo continuaram com o padrão de culto público nas
sinagogas, é bem provável que eles celebravam seus cultos nas sinagogas também.
Somente a Ceia do Senhor era celebrada “em casas particulares”. (At. 2: 46).
(WHITE, 1997, p. 114).
Mas não tardou
para que os cristãos fossem expulsos da sinagoga, e em meados do séc. II
constatamos que ocorrera uma fusão desses dois tipos de culto, em caráter
experimental inicialmente, mas que logo se tornou permanente. O padrão
sinagogal foi enxertado no padrão da Ceia do Senhor, ou os dois meios foram
fundidos: a palavra falada e o sinal executado. Do séc. VI ao XVI a liturgia da
palavra e a Ceia do Senhor se haviam tornado inseparáveis, exceto em ocasiões
raras como a Sexta Feira Santa. (WHITE1997, p. 114).
A fusão da palavra e os procedimentos
litúrgicos, provavelmente tenham ocorrido antes, temos como primeiro indício o
que está escrito na Primeira Apologia de Justino
Mártir, que foi escrito em Roma por volta do séc. II. Justino deixou-nos dois
exemplos de uma reunião sobre a Ceia do Senhor. A primeira tem sua sequência no
batismo. Os novos batizados (provavelmente na Páscoa), conduzidos à assembleia
litúrgica, que oferecia orações pelos participantes, davam-se o ósculo da paz e
a seguir iniciava-se a Ceia do Senhor. É bem provável que a iniciação quando
era celebrada, substituía a liturgia da palavra, mas não a Ceia do Senhor.
Também Justino parece ter descrito o que parecia ser um culto dominical comum:
(WHITE, 1997, p. 114).
No dia que se chama
do sol, celebra-se uma reunião de todos os que moram nas cidades ou nos campos,
e aí se leem, enquanto o tempo permite as Memórias dos apóstolos ou os escritos
dos profetas. Quando o leitor terminava, o presidente faz uma exortação e
convite para imitarmos esses belos exemplos. Em seguida levantamo-nos todos e
elevamos nossas preces. Depois de terminadas, oferece-se pão, vinho e
água. (WHITE, 1997, p. 114).
Nesses cultos, havia
leituras do Antigo e do Novo Testamento, um sermão e intercessões gerais, ou
orações dos fiéis, ou seja, essas orações eram a favor das pessoas. (WHITE,
1997, p. 114).
Quanto à leitura da palavra era
flexível, incluindo diversos trechos dos escritos sagrados. Conforme explicação
de White (1997, p. 114, 115) “A forma das intercessões da Sexta-Feira Santa –
oração responsiva, oração silenciosa com todos ajoelhados e uma oração de
síntese em que todos ficam em pé – é primitiva (dos primeiros tempos).
Elementos não – essenciais aparecem na liturgia da palavra dos primeiros tempos.
Conta-nos Agostinho: “Entrei na igreja, saudei as pessoas com a saudação
costumeira e o leitor iniciou as leituras.” Início mais parco e abrupto não é
possível imaginar.
Segundo
comentário de O Westminster Directory
impôs às igrejas nacionais da Inglaterra, Escócia e Irlanda a abordagem
puritana do culto em 1645, suplantando o Livro
de Oração Comum por 15 anos e acabando com a autoridade do Book of Comon Order escocês (1564). O
Diretory é mais do que um livro de rubricas, e menos do que um livro de
orações. A ordem para o “culto público de Deus” é a seguinte: o ministro chama
a congregação para o culto e inicia uma oração lembrando as pessoas de sua
própria vileza e indignidade para se aproximar tanto dele [Deus]; com sua
extrema incapacidade de, por si próprios, [realizar] tamanha obra. Segue-se a
leitura da Palavra (ordinariamente um capítulo de cada testamento na base da
lectio continua), canta-se um salmo, faz-se intercessão, uma oração pastoral
muito longa de confissão e intercessão, pregação da palavra, oração de ação de
graças,
o Pai-Nosso, um salmo cantado e uma benção. Esta liturgia da palavra forneceu
por vários séculos a estrutura básica do culto para boa parte da tradição
reformada de fala inglesa. A pregação é obviamente o ato dominante do culto. A
abordagem medieval, com ênfase na confissão de pecados e na
penitência, é evidente, mas há claros ganhos na recuperação
das
leituras do Antigo Testamento, na alta consideração pela salmódia
congregacional e na importância da pregação. (WHITE, 1997, p. 119, 120).
Conceito de Prédica Segundo (Schneider
– Harpprecht).
Prédica:
Discurso; oração. [Cf. predica, do v. predicar]. (FERREIRA, 2009. Dicionário
Eletrônico). A prédica está intrinsecamente
ligada às práticas kerigmáticas, quanto à liturgia da pregação, Schneider –
Harpprecht trata desse assunto com muita profundidade, embora a prática da
prédica seja pouco conhecida, ou desconhecida no meio pentecostal. A prédica não é muito comentada, ou conhecida
devido à sua forma de cultura em que se encontrava como também se encontra
hoje, um pouco distante do pentecostalismo. Nós preferimos chamar a mensagem de
pregação, outros pelo nome sermão, a prédica pode ser considerada também como
mensagem, pregação e sermão.
Faremos algumas
considerações somente sobre a prédica cristã para que possamos conhecer um
pouco a seu respeito. Todo pregador tem diante de si um fator importante e ele
sabe que precisa despender esforços para elaborar uma prédica. Isso ele fará
sabendo sobre o que o texto escolhido tem a dizer, e como esse texto pretende
que seja entendido pela comunidade, mas ele comunica, “(ideias de quem? As do
texto, ou as do pregador? Ou as de Deus?)”. É exatamente isso que importa para
a sua comunidade, que se reúne não para
ouvir suas palavras, ou qualquer coisa, mas a Palavra de Deus. (SCHNEIDER –
HARPPRECHT, 1998, p. 144). (Grifo meu).
Segundo Schneider –
Harpprecht segue-se uma orientação para nos auxiliar, quanto ao procedimento e
a forma correta de considerarmos o que significa prédica e a forma de exposição
da mesma. “Antes disso, porém, seguem-se algumas observações preliminares para
facilitar a nossa compreensão:”
Nossa proposta
visa fazer com que nos ocupemos de maneira nova – saindo da rotina – com a
teologia da prédica para definir nosso próprio posicionamento. Queremos
estimular o/a leitor/a ocuparem-se mais uma vez com temas homiléticos, a
ocuparem-se mais uma vez com sua própria posição teológica. Neste ensaio o
discurso público proferido no púlpito é designado sempre como “prédica”. Em
relação a isto poderia surgir um problema terminológico, já que essa expressão
é desconhecida em algumas igrejas ou porque se emprega outro termo: “sermão” e
“homilia” no âmbito católico, ao passo que em algumas tradições a prédica é
designada como “mensagem”. O conceito genérico sob o qual se podem subsumir
todas as espécies de proclamação pública da Palavra é “pregação”. (SCHNEIDER – HARPPRECHT, 1998, p. 145).
História da Prédica na “Igreja Antiga e na Idade Média”.
O conceito sobre a
prédica vem desde os tempos remotos do Antigo Testamento, passou pelo
Cristianismo chegando a Igreja Antiga e na Idade Média.
Schneider – Harpprecht nos dá algumas
explicações sobre a prédica.
A história da
prédica não começa apenas com a Reforma. Por mais supérflua que seja esta
observação, ela pode nos ajudar a evitar o perigo de entender unilateralmente a
“Igreja da palavra” como “instituição verbal”. De onde vem a característica –
por um lado legítima, mas por outra excessivamente abordada – das igrejas
protestantes como “Igreja da palavra”?
Basta apontar
para as grandes prédicas contidas no Antigo e no Novo Testamento para dar-se
conta de que a proclamação da palavra de Deus não é uma invenção da Era Moderna
incipiente. Pensemos por ex., nos discursos de admoestação dos profetas ou nas
parábolas de Jesus. Mas também na Igreja antiga e na Igreja primitiva as
prédicas dos apóstolos (veja a prédica no dia de Pentecostes de Pedro em At. 2;
a prédica de Estevão em At. 7; a prédica do apóstolo Paulo no Areópago em At.
17) ou as prédicas dos pais da Igreja oferecem exemplos da habilidade
homilética. As primeiras reflexões sobre a teoria da prédica foram
desenvolvidas por João Crisóstomo (m. em 407 d. C.) em sua obra De sacerdotio e por Agostinho (354-430
d. C.) em sua obra (homilética) principal intitulada De douctrina christiana. O alvo da prédica era a instrução pela
palavra; Crisóstomo entendia essa instrução como único “meio e caminho para a
santificação além do exemplo da boa ação”. (SCHNEIDER – HARPPRECHT, 1998,
p.146, 147).
A igreja discursava em latim, o que
não favorecia aos seus fieis, que não entendiam o discurso, e também por ser o
latim o idioma falado somente pelas elites e pelo clero. No séc. VIII, Carlos
Magno baixou um decreto, para que fosse feita uma “prédica no culto dominical,
para edificação e instrução do seu povo”. Carlos Magno pretendia que a vida do
povo tivesse uma ascensão e uma profunda renovação eclesial. Até o presente
momento só haviam prédicas “ocasionais feitas por bispos em latim”, isso para o
povo não repercutia em nenhum benefício. (SCHNEIDER – HARPPECHT, 1998, p. 147).
A Prédica Segundo “Daniel Friedrich
Ernest Schleiermacher (1768 – 1834)”.
Para se produzir
uma prédica é necessário à espontaneidade do pregador na sua elaboração ligado
com a sua maneira de agir no campo espiritual. Schleiermacher era da seguinte
opinião que tanto o culto como a prédica não se consideravam “atividades
docentes – neles não há nada para “aprender”, nem de modo geral em termos
práticos, como nas prédicas da época do iluminismo, nem em sentido dogmático,
como na ortodoxia”. Schleiermacher disse que: “na prédica se expressa à
autoconsciência piedosa do pregador, cujo interesse seria introduzir a
comunidade nesse sentimento piedoso e fazê-lo sintonizar-se com ele”. O
pregador desloca-se do centro da sua comunidade, “colocando-se diante dela,
fazendo-a participar, durante a prédica, do sentimento da religião”. (SCHNEIDER
– HARPPRECHT, 1998, p.153).
A Prédica na Visão de “Karl Barth (1886
– 1968)”.
A visão de Barth quanto
à prédica enfoca a impossibilidade e a dependência do pregador buscar auxílio
em Deus para formular sua prédica. Então se justifica que a pregação de
improviso está fora de cogitação por não ter o mínimo de bom senso na sua
preparação. “O pregador precisa entender que ele é um instrumento de Deus, que
o requisita para que, por meio da prédica do pregador, tomar, ele próprio, a
palavra”. Para o mensageiro que vai reproduzir a prédica porque ela não depende
dele. “Isto, naturalmente, está fora do domínio do próprio pregador, e a
prédica é a “possibilidade impossível” do pregador”. (SCHNEIDER-HARPPRECHT,
1998, p. 154 apud BARTH).
Um dos enfoques de Barth não é só o
preparo e a eloquência do pregador, mas um requisito necessário é a sua
vocação. Portanto, o pregador precisa primeiramente ser vocacionado por Deus
para tão nobre arte. “Numa pequena homilética, Karl Barth oferece a seguinte
definição sobre a doutrina da prédica em duas partes”:
1. A prédica é a
palavra de Deus, falada por ele mesmo lançando mão do serviço da explicação –
em discurso livre, dirigido a pessoas da atualidade – de um texto bíblico por
parte de uma pessoa vocacionada para isso na Igreja obediente à sua missão. 2.
A prédica é a tentativa ordenada à Igreja de servir à palavra do próprio Deus
por meio de uma pessoa vocacionada para isso, e de servir a ela de tal modo que
um texto bíblico seja explicado, em discurso livre, a pessoa da atualidade como
texto que diz respeito justamente a elas enquanto anúncio daquilo que têm a
ouvir do próprio Deus. (SCHNEIDER – HARPPRECHT, 1998, p. 154 apud BARTH).
Como podemos observar a prédica está
mais voltada para o estilo das igrejas anteriores e posteriores a Reforma,
entre elas, provavelmente a Igreja Luterana, exerce a prática da prédica, e
também a vocação do pregador, conforme havíamos dito que, “na prédica se
expressa à autoconsciência piedosa do pregador, cujo interesse seria introduzir
a comunidade nesse sentimento piedoso”. (SCHNEIDER – HARPPRECHT, 1998, p.153).
Essa postagem não esgota o assunto, mas devido o espaço, deixo apenas essa breve contribuição para que você tenha noção do referido assunto, a partir daqui espero que seja oportuno para meus queridos leitores a expansão do mesmo.
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