Sociologia/religião
A Ciência constata. O homem só é homem (pessoa no sentido sociológico) quando
está em comunicação como outros homens, a partir dos chamados grupos primários. Arthur Ramos
registraria em sua introdução à Psicologia
Social: “O homem isolado é um mito. A sua personalidade só pode ser
compreendida dentro do jogo complexo de influências ambientais – físicas,
sociais, culturais”. Park é mais radical quando afirma que “o homem não nasce
humano”. Isto é o homem precisa interagir-se com seus semelhantes para viver em
sociedade, tanto civil como eclesiástica.
A comunicação da mensagem cristã não
deve nem pode se restringir aos serviços litúrgicos realizados nos templos.
Podemos considerar a dimensão universal
estabelecida por Jesus Cristo, através da expansão missionária: “Ser-me-eis testemunhas tanto em Jerusalém,
como em toda Judéia e Samaria e até aos confins da terra”. (Atos 1:8). A
comunicação da mensagem cristã como realidade que não se esgota em proclamações
orais tão somente, para confundir-se com atos encarnados de vida; com a própria
mensagem-ação.
Porém, parece-nos próprio uma referência
especial à comunicação como deve ser exercida nos Templos onde tantos se
congregam para o contacto criador com a Palavra de Deus. Queremos
particularizar agora a comunicação através do diálogo pluri-dimensional, que é
o culto cristão.
Todas as noções já consideradas sobre o
lastro cultural – até um tipo de nacionalismo
– e a necessidade de encarnar os conceitos abstratos, a urgência de
contínua flexibilidade, etc. – como pontos necessários no processo de
comunicação da mensagem cristã eterna e universal – devem nos orientar no
trabalho de organizar as liturgias de nosso culto.
Quem recebe a missão de programar as
liturgias precisa, porém, conscientizar-se de algumas grandes verdades ligadas
indissoluvelmente à tarefa.
Primeiro, a compreensão de que liturgia não é um programa feito momentos
antes do início do culto, sem unidade nem preocupação de receber e comunicar a
mensagem.
A despeito da falta inexplicável de
atenção para com a liturgia – que se pode traduzir em desordem litúrgica ou na
enervante liturgia-rotina, precisamos lembrar que aqui se encontra um dos
caminhos principais para fazer do culto o veículo poderoso de comunicação que
ele de fato deve ser: preparação séria e cuidadosa.
A outra grande verdade ligada à tarefa
litúrgica excede à preparação séria e cuidadosa, porque depende também de
sensibilidade.
Não são todos que podem programar uma
liturgia criativa porque nem todos possuem a necessária sensibilidade. É
preciso sensibilidade para sentir o povo que participará do serviço litúrgico.
Saber que, também neste setor, não podemos fazer transplantes postiços e
artificiais nem imposições individualistas. A liturgia nasce do povo e só tem
vida no serviço de culto e adoração desse povo. Ousaria dizer que os programas
litúrgicos precisam ser diferentes em cada Comunidade específica, para que haja
comunicação verdadeira de todos com Deus
e também de todos entre si. Existem
pontos comuns em todas as liturgias, mas há também singularidade que apenas com
aguda penetração e sensibilidade poderemos formular para cada Comunidade
específica.
Terceira verdade vinculada ao assunto
que não podemos deixar de mencionar é que, acima da sensibilidade humana, a liturgia surge da comunhão contínua do
povo cristão com Deus, e perde toda a dimensão de comunicação divina quando
se resume tão somente num exercício intelectual ou avaliação psicológica do meio.
É Deus que dirige, através do Espírito,
a elaboração litúrgica feita pelo seu povo. O melhor exemplo que poderíamos
oferecer seria a menção das liturgias
que a própria Bíblia registra.
Diremos, em resumo, que a liturgia,
assim como aconteceu com a formação canônica da Bíblia, deve embasar-se no povo
de Deus – no caso, em uma Comunicação
específica do povo de Deus – e crescer como fruto da comunhão desse povo como o
seu Senhor. Só assim terá toda a força comunicativa com relação a esse
mesmo povo e a todos aqueles que participem de seus cultos-diálogos.
Jonas Neves Resende.
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